lábios de chuva
lábios, lábios, lábios os seus lábios estão me matando.
dois pêssegos perfumados
que respiram parte de mim como pó toda
a insignificância da minha firmeza
diante de dois arranha-céus,
seus lábios de sereia quero senti-los manchar em mim uma textura
de névoa. de véu de igreja flutuante em
um céu sem paraíso.
lábios lábios lábios toquem-me lá, quero
sentir que gozar é algo divino,
ramos gregos em minha cabeça quando a vejo
com os lábios colados entre uma língua vermelha
cor de sangue
insaciável. descubro o que é morrer quando com
sua língua para fora domina toda a
extensão que de mim torna-me frágil
,a pele mais fina do meu corpo é apenas uma dança
com seda revoluteando
para ela
em volta dela.
quero gritar-lhe puta porque quando vejo
seus lábios em mim desejo morrer
junto à liberdade que possui e de mim não sobra nada.
menina travessa,
lambe-me onde não consigo enxergar
voo tão alto quando dentro dos seus lábios
sua saliva quente queima tudo o que é vivo
desejo morrer piamente para nascer como santo
no segundo seguinte ao jorro de espírito nos seus
lábios de licor.
impura, infértil, o quente
turvo transparente dentro de mim
não a comove nem um pouco
- você sabia que quando juntos, um cerrado no
outro, formam
um coração bem pequenino — que boquinha linda
[é isso o que te dizem dos meus lábios de cereja?]
quero que morra
seus lábios de mentiras.
morra morra morra
lábios, em cima de mim mortos
- permita-me ser os últimos olhos
a serem vistos por você com os
olhos virados para cima,
— quero ser o último em sua memória,
o último homem a possuir sua língua sedosa
,macia como pode
[virar espinho quando não selada em mim?]
lábios, lábios, lábios deixem-me derramar minhas lágrimas
de homem fraco
em seus lábios puro sangue excita-me no
ponto mais alto para atirar-me de desgosto
logo em seguida.
— é o diabo que acolhe um homem depois de gozar?
por que você parecia tão animada?
[as mulheres contam com um outro tipo de demônio para acolhê-las?]
nunca acaba dentro de ti esta fagulha?
menina desejada tenho ódio do seu costume
de perfumar o ambiente com seu cheiro
de loucura lasciva menina dos lábios eternos
,não saia por esta porta
fique comigo aqui, por favor;
arranco-lhe os lábios e os guardo para mim
só para mim
como mamãe costumava a guardar
meus dentes de leite numa caixinha de anel
cromada cor vermelha -
podem apodrecer comigo.
enquanto o sonho não for verdade
,o pesadelo pode para sempre ser.
por que o que nos machuca cria
dentro de nós uma força inumana
de machucar de volta?