beleza bruta — volum. 02

Camila Naomi
2 min readApr 24, 2023

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Poder. Qual é o significado de poder? É a obsessão obstinada por outra medida de controle? Ou é esconder a besta na masmorra como um eterno segredo voluptuoso? O poder é a obscenidade. O poder é o excesso audaz da falta de vergonha. O desprezo por tudo aquilo que pode ser tocante, visível, notório. É desejar a aversão. É estar aberto ao horror, estar disponível ao horror, sem hesitar o repúdio visceroso. Quebrar os vínculos para ser eternamente livre. Livre em uma existência lascivamente oculta. Não temer a pulsão. Não temer o abandono. Ter a fatalidade da braveza de suportar a vulgaridade humana, sem esconder-se por detrás da admiração pelo companheirismo da culpa, da vaidade; mas pertencê-la na fantasia. A obra do terror. Fazer amor com o retrato da sua própria feitura e da feiura de cada um, sem reprovar a natureza inerte — herança da percepção. Perceberão um dia que tudo isso sem amor é apenas uma queda, um vacilo. Derrubar o ser humano em seu desespero áspero pela coberta do desamparo. É o mesmo que renegar a si e aos seus semelhantes. Existe tanto poder nisso. O poder da arrogância de permitir a completa e absoluta dominação da pulsão. A ponta da faca não teme o sangue; por que repudiar o gozo que escancara a cumplicidade do existir? A mancha vermelha na autodeclaração da voluntariedade, mesmo que esta não exista. Não escolhemos ser e moralmente mal escolhemos o que ser. Qual é o propósito de esconder? Apenas a raiz imortal do poder pode por fim nos libertar de nós mesmos — para que finalmente toda a outra liberdade externa seja completamente inútil. A pena que vale é a condenação dada ao já condenado. Somente a arte é amante do poder, para deste possuir a liberdade dos ossos — a penugem da natureza humana em sua composição mais despida. Não é permitido dizer tudo o que se sente; mas indecorosamente é capaz de criar. E essa é a única vantagem do amor para o artista.

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